O amor que ousa dizer o nome: Mulheres que amam mulheres
por Brunella FrançaAgosto é o nosso mês! São duas datas importantes celebradas por esses dias: 19 é o Dia do Orgulho Lésbico (amoras, parabéns! Eu me orgulho); e dia 29 é o Dia da Visibilidade Lésbica. Por conta dessas suas datas, quero fazer algumas reflexões com vocês.
Se existe uma data que comemora a visibilidade de algo isso significa que um dia esse algo era/é invisível. Nós. Há muito se comenta sobre homossexualidade, mas especialmente dos gays. Nós, mulheres homossexuais, éramos ou somos esquecidas. Somos mais discretas? Temos mais medo da discriminação? Da rejeição? Não fazemos questão de sermos vistas?
Acredito que a resposta é não. Mas é fato que no ambiente de trabalho, por exemplo, a sexualidade ainda é escondida por medo de retaliações ou mesmo demissões ocasionadas pelo pré-conceito. Quantas de nós vão ao ginecologista e não revelam serem lésbicas? Muitas! E não são poucos os profissionais de saúde despreparados para lidar com a diversidade sexual.
Aí vem a importância da visibilidade: quem é invisível não têm direitos. Quando se fala em visibilidade, subentende-se visibilidade de direitos, pois como qualquer pessoa, queremos ser felizes e vivermos nossas vidas com dignidade, auto-estima e respeito. Claro que cada uma sabe o que vai enfrentar ao assumir o que é. E cabe a cada uma escolher assumir ou não. Mas acredito que a dor de viver pela metade é muito maior que a turbulência que geralmente é preciso enfrentar para viver plenamente.
Para ilustrar a questão da visibilidade, quero tratar aqui – apesar de todas as críticas possíveis – das produções desenvolvidas por Ilene Chaiken (e não, ela nunca mais respondeu a entrevista). The L Wordé um marco na cultura lésbica. Não só pelas histórias, mas também pela produção. O primeiro seriado com alcance mundial a fazer sucesso e a chamar a atenção para nossa existência (meninas, eu sei que temos a nossa heroína lésbica, e sou uma xenite forever, mas Xena era muito na base do subtexto – delícia! – e vocês sabem que existem as criaturas que até hoje juram que nossa super morena e sua loirinha eram só e tão somente boas amigas – anham Cláudia, senta lá!).
The L Word é um produto bem hollywoodiano? Sim. Mas os dramas vividos ali, guardadas as devidas proporções, são semelhantes na vida de qualquer uma de nós. É claro que a nossa realidade é um tantinho distante daquela área de West Hollywood (mais alguém a fim de fazer as malas?). O mérito de The L Word, porém, pra mim um dos principais, é rechaçar o estereótipo de que lésbicas são mulheres feias e frustradas sexualmente. (Aqui eu preciso parar e suspirar horrores, quem mais?)
Após seis temporadas daquela que é até hoje a maior produção comercial voltada para o público lésbico, mama Chaiken trouxe este ano para a televisão (paga, obviamente) um reality show, The Real L Word, contando histórias de lésbicas reais e seus dramas (acreditem, não existem mulheres mais dramáticas que as lésbicas. E, suspeito, nem mais intensas).
As participantes: um casal em preparativos para o casamento (Nikki e Jill); uma mulher que se assumiu há pouco tempo e tenta conciliar o relacionamento com outra mulher mãe de três crianças pequenas e conquistar a aceitação de sua mãe (Tracy); uma conquistadora que tem uma relação maravilhosa com a família, mas problemas em se manter num namoro sério (Rose); uma garota totalmente perdida no mundo dos sentimentos e no meio das pernas de várias garotas (Whitney); e uma mulher que lutou pela sobrevivência durante sua vida inteira e se tornou a produtora do LA Fashion Week (Mikey).
Vou confessar que se organizar um casamento é realmente tão complexo quanto Nikki e Jill fazem parecer, vamos só morar juntas que está de bom tamanho. Aloka, traumatizei! É claro que as duas produções são completamente diferentes. The Real L Word, a meu ver, veio para concretizar um pouco do mundo de sonhos construído em The L Word. Como assim? Acompanhem: as lésbicas existem na sociedade, elas se agregam e fazem coisas fantásticas, querem e constroem seus espaços e podem sim ser lindas e bem-sucedidas.
Algumas delas têm a sorte de nascer em famílias estruturadas que lhes dão todo o suporte. Outras têm que vencer uma guerra por dia para conquistarem o que querem, e é possível vencer (essa é a história da Mikey). Outro mérito do reality show foi mostrar que o fato de ser lésbica é apenas uma característica de uma pessoa. Lésbicas são mulheres em primeiro lugar e, acima de tudo, seres humanos.
Por isso, na primeira coluna O amor que ousa dizer o nome deste mês, quero desejar a nós menos “normalidade” e mais felicidade (tenham sempre em mente a frase de Oscar Wilde: o conceito de “normalidade” é uma ilusão imbecil e estéril). Menos padrão e mais emoção; menos hipocrisia e mais honestidade (inclusive com nós mesmas); menos exclusão e mais justiça (precisamos mesmo pedir a um país inteiro para nos casarmos com quem amamos?); menos pré-conceito (inclusive aquele interior) e mais aceitação (seja!). Menos respeito e mais carinho.
Sintamo-nos mais. Vivamo-nos muito. Aceitemo-nos toda. Conheçamo-nos em tudo. Experimentemo-nos. E o mais importante: complementemo-nos a mando de nossa essência, de nossos sentimentos. O que nós queremos simplesmente é o direito ao Amor.
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